domingo, 27 de setembro de 2015

INDIGENTE DA VIDA E DA MORTE

Quero contar  minha história aos que tiverem a paciência de ler minhas palavras.
Minha primeira lembrança é de uma enorme casa cheia de crianças, as vezes uns iam e nunca mais voltavam, achava aquilo tudo muito estranho. Com o passar do tempo vim a saber que se tratava de um grande orfanato numa grande cidade do nosso país. Era dirigido por freiras, umas boas e outras nem tanto.
Muitos nunca devem ter ouvido falar na “roda dos enjeitados”, já que isso não é mais usado. Funcionava mais ou menos assim: a mãe que por motivo ou outro não desejava a criança recém nascida, colocava-a nessa roda, tocava um sino e se afastava, minutos depois uma das freiras ia ao local rodava a roda para o lado de dentro e recolhia o infeliz enjeitado que ali era depositado.
Foi assim que fui parar naquele orfanato, onde passei alguns anos da minha curta vida.
As crianças ali deixadas eram dadas para adoção, daí a lembrança de ver uns indo e não voltando, esses eram os que com sorte conseguiam um novo lar. Muitos eram verdadeiros filhos de coração daqueles que os adotavam, outros eram adotados com intuito de serem empregados da família adotante.
As crianças mais bonitas de pele alva eram as primeiras a serem escolhidas, nós os de cor negra ficávamos sempre a esperar alguém que pudessem nos tirar de lá.
A vida corria assim naquele lugar que chegavam e saíam crianças, vivi ali até completar uns 13 anos, quando um casal com cara de bons amigos me levou em adoção, naquele tempo as adoções não tinham a burocracia e o acompanhamento que tem hoje, alguém ia lá te escolhia e te levava.
Minha alegria foi enorme quando fui escolhido, achei que o meu grande dia houvera chegado, que ilusão! Logo que cheguei na nova casa fui levado a um quarto insalubre, era ali que eu viveria. Descobri que eu seria naquela casa um serviçal para fazer serviços de jardinagem, de pintura, enfim o que precisasse.
Eu era acordado cedo pela dona da casa que já vinha com uma lista dos afazeres daquele dia. Me levantava sonolento e se resistisse e voltasse a dormir era tirado da cama com bofetadas na cara. Minha alimentação era restrita, não me davam o que os filhos dos donos da casa comiam, os via se fartarem e pra mim somente os restos ou que a empregada velha da casa conseguia esconder e me dar, ali era a única pessoa que tinha pena de mim. Escola não frequentava, o que aprendi foi no orfanato.   
Trabalhava o dia todo fazendo serviços que cabiam a um adulto, não a mim criança ainda e além de tudo com pouca saúde.
Quando terminava os serviços podia tomar frio, banho quente era luxo. Me davam um prato de comida e só então podia me recolher ao meu pobre quarto onde um colchão era colocado no chão fazendo as vezes de cama. Muitas vezes chorava tanto que o sono e o cansaço me venciam a aí acordava para meu e exaustivo dia.  
Quando adoecia era horrível, muitas vezes achavam que era uma farsa e mais ainda eu sofria, só quando tive uma febre de delirar é que me deixaram ali naquele quarto e quem me ajudava era a velha empregada que era tratada como eu. Me contou certa vez que ela também fora adotada pela mãe da dona da casa para ser empregada da família. A vida dela era tão dura quanto a minha, só sofrimento.A diferença é que ela era muito bondosa e se conformava com isso e dizia até gostar dos patrões.
Quando fiz 17 anos comecei pensar em sair dali, um dia me deram um dinheiro para fazer um mandado. Sai como de costume, coloquei o dinheiro no bolso e nem olhei para traz, com a roupa e aquela quantia sai dali para nunca mais voltar.
Passava dias nas ruas a mendigar comida, me sentia muito humilhado, mas com o passar do tempo tudo isso foi desaparecendo, comecei junto com outros moleques iguais a mim mesmo a praticar pequenos furtos e logo me viciei em álcool, comecei a cheirar cola de sapateiro, acabei entrando nessa vida sem volta, até procurar por furtos maiores. Furtava, comia, cheirava cola e bebia e a vida ia seguindo.
Até que um dia em num assalto mais ousado fui atingido por um tiro no peito. Havia sido pego pela policia, terminava ali a minha existência carnal. Terminava ali uma vida que eu nem sabia como tinha começado.
Ninguém chorou, ninguém se lamentou, fui levado à terra como indigente. Indigente que fui a vida toda.
Filho sem mãe, rapaz sem carinho.
Vida triste, podia ter tomado outro rumo? Sim poderia, mas imaginem que isso não é fácil. Por isso antes de julgar pensem em quantos sofrem e acabam como eu por pura falta de ajuda.

Um indigente da vida e da morte.   

                                                         
Psicografia recebida em  2015.                                      
            Médium:  Débora S. C.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015


UM ANJO ME LEVOU PARA O CÉU

Ruas escuras, frio, fome, solidão, tristeza e muita dor, somente eu relatando e descrevendo o que eu vivi. Vocês já podem imaginar onde e como eu vivi quando estava na carne.
Sou andarilho acho eu que sempre fui e não me lembro de ter família, eu não me lembro de nada que se refere o amor maternal, paterno ou de irmão.
Nas ruas você sempre encontra irmão: Irmão tem pão! Vai uma cachaça aí ou vai um cigarro ou drogas? Irmãos nas ruas têm também aqueles que deixam um agasalho, um copo de café com leite, um cobertor e também uma palavra consoladora que deixam para nós mendigos.
Sempre que possível eu me lavava e dormia em albergues, isso quando estava consciente e de bem com a vida pensando que era gente e que merecia estar limpo e descansado para o amanhecer do dia.
Eu tinha sonhos lindos que um dia iria construir uma família com esposa e filhos, mas não consegui nada, cada dia eu vivia um pesadelo.
Um dia um homem que sempre me deixava um recado, bilhete, do meu lado com palavras de coragem, de luta e sempre com bilhete tinha um cigarro, um pão e um cafezinho bem amargo, tipo para curar a ressaca. Adorava ler e pensava: Nossa esse cara sabe tudo, como ele pode escrever essas palavras tão lindas e que me faz sentir gente e com esperanças de um dia eu não mais sonhar e sim viver aquele sonho. 
Numa tarde eu pensei não vou dormir, quero conhecer essa pessoa que me deixa feliz e com coragem e assim eu fiz não dormi e foram várias noites a esperar, mas chegou o dia e foi uma surpresa enorme porque era uma criança e não um senhor como eu havia imaginado. Nossa quanta emoção, como uma pessoa tão pequena ter tanta sabedoria? Não sei explicar.
Hoje eu aqui estou me recuperando dos vícios da carne e quero muito agradecer a essa criança que me fez tão feliz e me proporcionou tanta alegria. Um grande e carinhoso abraço a esse anjo querido que por muitas noites me levou para o céu.
Obrigado. 
Antonio Ezequiel.     

 Psicografia recebida em 2015.

             Médium: M. Nicodemos.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015


NAS  GARRAS  DAS  DROGAS


Sempre busquei a loucura, sempre falei das viagens psicodélicas, dos baratos que as drogas podiam me proporcionar, que a cada pico e a cada dose de acido uma nova loucura, eu vivia e eu buscava isso todos os dias de minha existência.
Um dia a loucura não passou, o efeito perdurou e os monstros e aberrações não passaram, os sons e cores passaram a ser estridentes gritos e as cores passaram a ser só trevas, acho que esse pico foi forte demais. As pessoas derretendo diante de meus olhos passaram a ser seres horripilantes que me surravam, mas diferente das outras ondas, essas doíam e não acabavam jamais.
Gritei, corri e onde quer que eu fosse lá estavam eles os monstros que às vezes achava engraçado, mas que agora são terríveis.
Não sei quantos dias durou essa onda e num dado momento supliquei a Deus, o qual achava careta, para que aquela onda passasse. Vi uma luz e por um momento tudo aquilo sumiu e senti enorme vontade de não mais viver a loucura.
Adormeci e após não sei quantos dias ou sei lá quanto tempo depois acordei, mas não como acordava das outras vezes, estava fraco, um trapo humano em um lugar que não sabia onde era.  
Com tempo descobri que a vida louca que achava que vivia havia acabado e só me restava a culpa dos atos tresloucados que cometi.
Hoje sou um farrapo, um joguete que deixou ser guiado pelas drogas. Essa droga que ilude tantos e tantos seres nesta vida.
Lesei muito meu corpo e minha mente e sei que terei que acertar tudo isso e daí vêm o medo, sou covarde, mas peço a misericórdia de Deus para que eu possa melhorar e quem sabe um dia me perdoar.
Fujam das garras desta que acabou comigo e com milhões de almas deste mundo.

Marcílio.

            Psicografia recebida em 2015.                                     

            Médium: Luciano C.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015


ESTOU  EM  PAZ

          O movimento das pessoas era grande. Uns vinham com medicamentos, outros com soro, outros com máscara de oxigênio.
          Mas eu já não reagia, eu não, meu corpo físico. O pior é que eu via e sentia tudo. Estava conformado, pois estava cansado de sofrer. Foram muitos meses de sofrimentos nos últimos tempos. Químicas, internamentos e todo tipo de tratamento sem nenhuma melhora.
          Está tudo bem, pois estou em paz, só o que me preocupava foram os meus que ficavam para trás, meus filhos ainda pequenos, minha esposa ainda nova e com pouca experiência da vida. Da minha profissão eu tirava todo o sustento, mas sabia que a minha esposa teria que trabalhar para dar conta dos estudos de meus filhos daí por diante.
          Uma coisa me tirou de meus pensamentos de tanta preocupação, senti em meu corpo um torpor e em seguida um arranco. Que seria isso? Ah! Estavam tentando ressuscitar-me, mas eu estava tão bem.
          Mas aí sim fui levado para um lugar bom e vazio, um verdadeiro gramado celestial. Lá eu descansei. Meu pai e minha mãe vieram e me abraçaram. Hoje estou em um hospital espiritual me recuperando muito devagar.
          A doença longa exige um tratamento adequado.
          Hoje sei que eu consegui vencer essa etapa de minha vida como um prêmio para que eu pudesse sanar minhas dívidas pregressas.
          Agradeço a Deus e a todos que me ajudaram. Meus médicos e todos os enfermeiros que cuidaram de mim, minha esposa e meus filhos.
          Que Deus abençoe a todos.
         
           José Hilário Silva.                                                                                   
                                                         
          Psicografia recebida em  2015.                                      

          Médium: Catarina.

sábado, 5 de setembro de 2015


ALGUÉM QUE MUITO ERROU      (PARTE  02)
(Continuação da parte 01 publicada dia 01/09/15)

Mais de um século se passou desde aquele triste dia em que por um ato de loucura tirei a vida da minha amada e do bebê que ela carregava no ventre.
Muitas coisas aconteceram desde então, os espíritos envolvidos nessa terrível trama já regressaram para a pátria espiritual. Aprendi muitas lições de amor e de solidariedade, consegui o perdão de muitos dos envolvidos, outros ainda trazem o amargor no coração por todo mal que lhes causei.
Minha amada juntamente com o seu marido, o rapaz simples que eu tanto odiei, já reencarnaram e aceitaram a me receber como filho. A criança que eu não deixei que nascesse já reencarnou como filha deles e será minha irmã mais velha.
Retornarei com muitas limitações e isso será o teste para o meu orgulho e maldade, dependerei muito dessa irmã que me amará incondicionalmente já que era um espirito querido de longos tempos.
Ainda adolescente ficarei órfão de pai e mãe ao mesmo tempo. Dependerei exclusivamente da minha irmã.
Por esses dias estarei retornando e me preparo para o trabalho reencarnatório.
Confesso que sinto medo, preciso, tenho que vencer e dominar minhas fraquezas e peço a Deus nosso Pai que me auxilie para que eu consiga sair vitorioso.
Que Deus ilumine minha amada que agora será minha futura mãe, o rapaz simples que me receberá como filho do coração e a criança que agora será minha irmã e o anjo bom da minha vida.
Seguirei em breve dias, talvez seja a última oportunidade de olhar daqui desse banco as maravilhas desse lugar e o azul lindo desse céu.
Que Jesus nos ampare a todos.   
 
 Alguém que muito errou.
                                                     
(Está carta é continuação da parte 01 publicada dia 01/09/15. O espírito escreveu duas cartas distintas no mesmo dia, sendo uma em cada reunião e pelo mesmo médium.).                                                          
Psicografia recebida em Reunião de Psicografia em 2015.                

            Médium:  Débora S. C.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

ALGUÉM QUE MUITO ERROU      (PARTE  01)

Era um final de tarde e eu me encontrava assentado em um banco daquele lindo jardim, olhando o céu infinito com seu azul maravilhoso comecei a repensar na minha ultima encarnação.
Eu era um rapaz de família abastada e sempre tive tudo o que queria, meus pais não poupavam esforços, tinha carro do ano, roupa da moda e tudo o mais que um rapaz fútil e rico pensasse em ter.
Pra mim o mundo era só meu, acostumando a ter todos os meus desejos satisfeitos nunca me conformava com um não. E foi assim que conheci minha doce amada, no momento ela era amada por mim, mas nunca me amou. Fiz de tudo o que pude, mandava flores, comprava tudo o que dinheiro podia comprar para tê-la ao meu lado.
Ela moça simples era apaixonada por um rapaz tão simples quanto ela, eu não me conformava, porque ela o preferira pobre sem nada a oferecer, do que a mim, rico com mil possibilidades de satisfazer todos os seus desejos materiais. Com tudo, ela não me suportava, no começo era educada comigo e falou francamente comigo para que eu perdesse as esperanças, que procurasse alguém que me pudesse fazer feliz, que o coração dela já tinha dono e nada do que eu fizesse a faria muar de idéia.
E foi assim que passei a cercá-la em todos os lugares, não lhe dava sossego. Aquela historia para mim que nunca recebi um não, tornou-se uma obsessão. Queria aquela moça e ela seria minha. Fiz de tudo o que pude para separá-la do rapaz amado, mas nada do que eu fazia era motivo para abalar aquele amor. E foi com muito ódio que assisti da porta da igreja o casamento deles. Nesse dia me senti mais louco que nunca.
O tempo ia passando e a minha fixação sempre aumentando, nada me fazia mudar de idéia. Foi com imenso ódio que descobri que ela estava grávida, via a barriga crescendo a cada dia. Não suportei a dor e numa tarde tão linda como essa de hoje eu acabei com a vida dela dando-lhe dois tiros certeiros, um no peito e outro na barriga. Mataria os dois.
Me escondi na fazenda do meu pai, mas não demorou que a polícia me encontrasse, fui julgado e passei muitos anos preso. O arrependimento nunca esteve presente em meu coração. Desencarnei muitos anos depois, já homem maduro, mas nunca me esqueci do pavor estampado naquele rosto na hora em que viu aquela arma apontada em sua direção.
Regressei para a pátria espiritual, completamente alucinado, como sempre fui, arrogante, horrível. Passei nem sei quanto anos em lugar sombrio e lamacento até que um dia cansado resolvi pensar em Jesus, o Jesus que a minha mãe falava. Mãe que morreu de sofrimento e decepção por minha causa. Orei e pedi ajuda e ela veio, minha amada me socorreu, aconchegou-me no colo como uma criança e me disse que tudo havia passado, ela me perdoava por todo o mal que lhe causei.    
Criatura maravilhosa, resplandecente de luz me perdoou e me auxiliou, e se hoje posso estar aqui nesse banco contemplando esse lindo jardim e esse céu azul, devo a ela, a pessoa que eu mais prejudiquei.
Vivo carregando o meu remorso e a minha dor. Sinto-me tão envergonhado e agradeço a Deus por ter me permitido contar um pouco da minha historia.

   Alguém que muito errou.                                                       
   (Está carta, que foi recebida numa reunião, tem continuação onde o mesmo espírito escreveu na reunião seguinte, que será publicada no Blog na próxima vez.).                                                         
Psicografia recebida em Reunião de Psicografia em 2015.                

            Médium:  Débora S. C.