domingo, 29 de novembro de 2015

MELHOR COISA DO MUNDO

         Eu tinha nanismo. Minha cabeça era grande assim como minhas mãos. Meu corpo não se desenvolveu, mas o meu coração palpitava como de qualquer pessoa. Zombavam de mim e até minha mãe às vezes me escondia, eu pensava que era por vergonha de ser assim, mas hoje que estou no plano espiritual vejo que era para me proteger das zombarias.
           Fui uma criança de rosto belo, minha mãe mesmo cortava meus cabelos, enfeitava com uma fita branca e dizia que eu era bonita.
         Depois eu vi que não era bem assim. Morávamos nos arredores de uma cidade pequena e aos quinze anos eu queria ir à festa na cidade. Não quiseram me levar. Meus irmãos e minhas irmãs foram e voltaram contando as novidades. Como eu gostaria de ter estado lá.
   ue me levou tus oi tanta gente me ajudando. Nda valeu e eu morri.
 mente norrem. Mu       O tempo passou, meus irmãos casaram e eu fiquei em companhia de meus pais. Oh que coisa esquisita. Eu cuidei deles até eles morrerem. Foram enterrados no cemitério local. E eu fiquei sozinha na casa que eles construíram. Cuidava dos animais, da casa e da horta.
      Com passar do tempo também envelheci. Comecei a enxergar o que os outros não enxergavam. Via pessoas que falavam comigo. Me orientavam em várias coisas.
          Um dia um casal chegou em minha casa  correndo com uma criança no colo. Estavam aflitos e sem saber o que fazer. Me pediam socorro. A mim, uma anã e velha... Mas eis que me apareceu um senhor que só eu via e me mandou por a criança ao colo e rezar por ela. Foi o que fiz, mas esse senhor pegou a criança, enfiou os dedos em sua garganta puxando algo e a criança voltou a respirar.
           Bastou que isso acontecesse para que eu não tivesse mais sossego, todos achavam que eu curara a criança e foi uma verdadeira procissão de gente que vinha para que eu ajudasse. Nunca mais fiquei só.
            Apareceu uma moça, que morava sozinha para me ajudar e realmente me ajudou, pois ficou comigo muito tempo, morando comigo até o meu desencarne.
            Hoje agradeço a Deus por tudo isso e digo que a melhor coisa do mundo é a mediunidade.

             Ana ou Tianinha como muitos me chamavam.
                                                         
 Psicografia recebida em 2015.                                     

 Médium: Catarina.

domingo, 22 de novembro de 2015

UMA ESCRAVA FELIZ

        Todos os dias as 11:30 da manhã eu me encaminhava para a grande varanda daquela fazenda e tocava o sino, o sino que convidava a todos para o almoço.
         O prazer que eu sentia era muito grande, pois ao tocar aquele sino centenário não era só os patrões, os senhores que eram convidados para o almoço, os meus irmãos de cor também. Certo que eles não almoçavam juntos dentro da casa grande, mas naquela fazenda a comida que era servida aos senhores era a mesma servida aos escravos que ali nunca foram tratados como escravos.
        Os solteiros que viviam avulsos moravam na senzala, que mais parecia um grande alojamento com camas simples, mas todos tinham sua cama, ninguém dormia no chão, os que haviam constituído família moravam em casinhas individuais, ali todos eram tratados como gente com dignidade, embora não tivessem salário, mas não lhes faltava comida, bebida, roupa e o mais importante dignidade, coisa que para aquela época para os que nasciam com a pele negra era em maioria absoluta das vezes negada.
           Eu vivia ali, era muito feliz, mas não nasci naquela fazenda, fui vendida quando tinha 14 anos, sai de um verdadeiro inferno, pois que a fazenda que vivia o negro não tinha o menor direito, nem de comer.
           Me lembro bem de quando cheguei lá, senti muito medo, mas logo vi que aquela fazenda representava para meus irmãos de cor que lá moravam. Lá cresci, virei adulta, nunca me envolvi afetivamente com nenhum escravo, eu vivi para meus senhores, ajudei a criar aquelas lindas crianças e sempre fui muito amada por elas, eu era a Babá a Ba como eles me tratavam. Morri lá já bem velha e sempre recebendo o carinho daquela família.
          Tive uma vida muito feliz ali e penso porque não tinham o mesmo tratamento os negros em outras fazendas. Aquela família era constituída de espíritos bons, todos ali pensavam da mesma maneira.
          Essa foi a minha penúltima encarnação, e talvez a mais feliz de todas, tenho saudades daquele tempo. E quando ainda hoje, mais de um século do fim da escravidão, vejo pessoas sendo tratadas como verdadeiros escravos, pessoas sofrendo ameaças, outras sendo mortas por guerras religiosas, sinto meu coração doer. Quanto tempo já passou, e ainda se vê seres humanos com tanto ódio no coração, com tanta amargura.
           Eu creio em um mundo melhor para todos. Citei meu exemplo para mostrar que pessoas existem, em todas as épocas, que são verdadeiros anjos para o próximo.
           Não descrêem da humanidade, mesmo em meio a tanta maldade podem acreditar anjos encarnados ainda existem. Tenham fé na humanidade, fé nos seres humanos. Fé em Deus.           

           Maria, uma escrava feliz.

          Psicografia recebida em 2015.                                     

          Médium:  Débora S C.

sábado, 14 de novembro de 2015


NÃO SOU HERÓI

Não sei quanto tempo se passou, mas vejo que não é mais aquele frio e triste inverno de 1944, aquele famigerado inverno onde sofri as atrocidades daquela guerra, que ceifou milhares de vidas, vidas que não mereciam serem ceifadas.
Como foram difíceis aqueles anos, não havia paz em nenhum lugar. Eu estava imerso naquela guerra e eu lutei, matei e morri sem nunca ter tido vontade de estar ali.
Fui convocado para a guerra, o desespero tomou conta de minha vida e da minha família. Eu era tão jovem e de repente ali estava eu tendo que matar outros seres como eu, eu que não havia matado um único animal em minha existência, agora estava ali tendo que matar sem motivo algum. Eu não acreditava na guerra eu era contra tudo aquilo.
Sinto até agora o cheiro do sangue daqueles seres mortos, sinto o frio inebriante daquelas trincheiras, sinto o som das bombas e o zunir das balas, sinto o medo dos ataques que sempre aconteciam no escuro da noite.
Sinto saudades de minha mãe, da ultima vez que a vi ao embarcar naquele trem rumo a batalha.
Sinto a tristeza do primeiro ser humano que assassinei em nome da guerra e de todos outros e outros que matei.
Meu Deus me perdoa e não queria fazer nada daquilo, eu quero sair deste combate que nunca acaba eu quero voltar pra casa, eu quero ter paz novamente.
Não sou herói, sou assassino e dos mais vis, pois matei em nome de um ideal que não era meu.
Quero voltar pra minha terra e esquecer todo mal que fiz.
Não sou aquela cruz na terra distante, quero voltar a ser o garoto que corria ingenuamente nas serras de minha terra natal.

Geraldo.  

            Psicografia recebida em 2015.                                     
            Médium: Luciano C.

domingo, 8 de novembro de 2015

FUI MUITO REBELDE

Como é bom está aqui, fico maravilhada com essa sensação de poder escrever através de outra pessoa. È um milagre ou um efeito especial, como Deus é maravilhoso, nós dá essa possibilidade de confortar os nossos familiares e nos dá a oportunidade de mais uma vez poder pedir perdão mesmo estando “morta”.
Eu sou uma pessoa que não acreditava em mediunidade e espiritismo pra mim era vela, macumba nas encruzilhadas e rosas vermelhas. Não tenho nenhum conhecimento da doutrina, mas não vou questionar e sim aproveitar essa oportunidade que o Pai me proporcionou e vou pedir perdão.
Sempre fui muito rebelde, tinha umas idéias meio fora das convencionais. Gostava de me sentir livre, dona do meu nariz, mas com as minhas atitudes fiz muitos sofrerem e magoei profundamente minha genitora. Muito católica e muito correta com suas coisas e negócios, eu simplesmente retirei de seu coração o verdadeiro sentimento da felicidade, da paz e quase levei minha querida mamãe a loucura e ao desespero.
Joana era seu nome e eu Juliana sempre me perguntei do porque de tanto semelhança no nome e que foi ela quem escolheu. E eu com a minha rebeldia não fui um orgulho e nem o seu espelho de pessoa.
Mãe Joana eu quero pedir perdão e lutei muito para estar aqui. Não foi fácil para mim, durante anos ou até mesmo décadas, achava eu que você que me deveria pedir perdão. Como fui egoísta e insensível, me desculpa por todas as noites sem dormir a minha espera, por ter subido aquele morro cheio de desconhecidos e escuro. Muito obrigada por ter cuidado dos meus filhos que abandonei e que muito tempo depois do meu desencarne vieram me dizer que nenhum havia se perdido.
Muito obrigada e me perdoe, esse perdão me levou a luz e hoje já não sou mais uma menina suja e desajeitada. Hoje me sinto uma pessoa que tem vontade de mudar a sua própria história e refazer com vocês a minha nova oportunidade de vida.
Deixe que eu renasça em seu leito de amor, para que eu possa suprir todo o seu sofrimento e fazer a senhora Joana uma mulher e mãe bem sucedida.
Me perdoe Dona Joana e receba o meu abraço.
    
Juliana Carvalho.     

 Psicografia recebida em 2015.
             Médium: M. Nicodemos.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

FLORES NASCEM  FLORES MORREM

           Meu pai.
         Porque ficar desalentado com minha morte? Flores nascem flores morrem. Nem sempre as flores dão frutos e sementes.
          Assim fui eu. Jovem, tranqüilo, confiante, observador... Mas não observei que alguma coisa não ia bem em mim. Comecei a me sentir meio fraco e triste, mas não disse a ninguém. Minha mãe notou, mas eu não disse nada.     
       Estudava como qualquer um, mas estava muito aborrecido e desanimado com os estudos. Comecei a ficar pior, quando alguém disse que deveria procurar um médico. Minha mãe me levou. Exames, exames e exames.
        Quando o médico viu, eu notei um ar de preocupação em seu olhar. Era uma doença grave: leucemia.
     Chamaram-me e com muitos rodeios me disseram e falaram também que eu ia ser hospitalizado. Muitos tratamentos, mas seria necessário um transplante de medula. Fiquei internado muito tempo e durante esse tempo minha mente não parava: por quê? 
         Nem sempre compreendemos, mas durante aquele tempo fui preparado e acredito que vocês também foram preparados, mas não aceitavam o fato.     
         Um dia acordei muito ofegante, o oxigênio me faltava, houve uma correria e fui para UTI. Lá estranhei bastante porque eu nunca vi tanta gente me ajudando. Nada valeu e eu morri.
         Mamãe se desesperou, falou blasfêmias: “Onde estava Deus que me levou tão jovem”? Por quê? Meu Deus!
         Daí a pouco não vi mais nada... Fui levado de maca para um lugar que não sei falar onde fica. Tudo muito limpo e muito agradável. Meu corpo já não doía e eu estava bem. Fui cuidado por dois jovens que me falavam de vida eterna, de consolações, de alegrias vindouras e que me diziam que breve eu me recuperaria.
      Será que não precisaria mais do transplante? Disseram que não, que o corpo que estava doente foi descartado e que o corpo que eu possuía era perfeito, não necessitava de transplante.
      Dormi tranqüilo e sossegado e até hoje sinto muito bem. Faço excursões com amigos que conheci agora e às vezes vou à casa de vocês. Vejo-os, acaricio-os, mas não me vêem.
      Sou como uma plantinha ainda, porém saudável e espero novamente estar no convívio de vocês muito breve.
        Um abraço de carinho do filho
        Dudu. ue me levou tus oi tanta gente me ajudando. Nda valeu e eu morri.
 mente norrem. Mu                                                         
 Psicografia recebida em 2015.                                     

 Médium: Catarina.