UM
DIA EU VOU SABER
Somos todos descendentes
uns dos outros, queiramos ou não somos uma só família. Assim sentia eu, pois
morei em um orfanato, órfão de pai e mãe (eu achava assim) estava sempre a
espera que alguém me adotasse. Vinham pessoas de todos os lados, eu achando que
iam me querer... Mas qual o que? Olhavam-me de lado e passavam.
E eu pensava assim: não
sou descendente dessa pessoa, ou melhor, o nosso sangue não é igual? Mas nada.
Ninguém me queria. Atingi a adolescência e chegou a hora de me virar.
O orfanato mesmo cuidou
de me arrumar um emprego. Nesse emprego eu dormia, comia e afinal de
contas morava. Só que eu continuava sendo rejeitado. Meus patrões me exploravam
de todo jeito: eu trabalhava quase a exaustão. A comida era controlada. À noite
eu sentia muito frio, no tempo do frio e muito calor quando era o verão. O
cômodo era muito pequeno e eu resolvi fugir.
Aí sim eu sofri, sofri
muito. Primeiro de esquina em esquina, procurava as pessoas, mas elas se
esquivavam. Pedia algum dinheiro e elas às vezes me davam, às vezes não.
Continuava a andar sem rumo até que eu encontrei embaixo de um viaduto pessoas
que, como eu também perambulava. Elas me ofereceram algo que gostei. Era
craque. E foi assim, fiquei com elas e me tornei um viciado. Aí não conseguia
ficar sem a droga e resolvi como as outras pessoas, roubar para sustentar a
droga.
Não fiz amizade real
com ninguém, só pensava em suprir as minhas necessidades físicas. Alguém me
denunciou por roubo e fui indiciado como ladrão. Fui preso varias vezes. Estava
na prisão, revoltado comigo e com a vida, quando chegou alguém que queria me
ver. Era um antigo colega do orfanato que em ofereceu a mão, me levou para a
sua casa, me banhou, me olhou e orou para mim (ele se tornou evangélico).
Tinha família formada
com esposa, filhos e um netinho que acabou de nascer. Tudo na vida dele correu
normalmente como manda a vida. Eu, porém era um pobre coitado sem nada. Ele me
levou para a sua Igreja e lá fui recuperado. Cheguei até a fazer a leitura lá
na frente do altar.
Mas a droga já havia
corroído em mim minha saúde física e comecei a sentir os efeitos funestos de
sua ação. Adoeci gravemente, fui para o hospital e lá morri. Fui velado e
sepultado por esse amigo, a quem devo todo meu respeito e gratidão.
Hoje eu me acho em
um hospital espiritual onde sou tratado. Vem sempre um pastor que dialoga
comigo, me ajuda e me orienta.
Pergunto a ele o
porquê de certas situações, por exemplo: porque eu não tive a mesma sorte de
meu colega que como eu foi criado num orfanato e que teve uma vida tão boa?
Porque eu sofri tanto, se nada fiz por merecer?
Ele diz que um dia eu vou saber, mas que por enquanto ainda não posso,
porque estou me recuperando.
Hoje tive a
oportunidade de escrever nessa reunião, auxiliado por esse pastor e ajudado por
uma mulher que diz ser a minha mãe.
Obrigado a todos.
Eduardo Noronha.
Psicografia recebida em 2015.
Médium: Catarina.