sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

O ANDARILHO

          Não posso me movimentar. Estou preso a alguma coisa que não sei o quê. Me ajudem.
          Minha voz já está se esgotando, o ar já me está faltando. Ninguém me ouvia.
          Foram estas sensações pavorosas que me acabrunhavam, que me afligiam e que me maltratavam.
          Dormi, não sei por quanto tempo, acordei em um campo com grama muito verde e bem tratada. O céu estava azul. Eu dormi ali? Não; não me lembro. Só sei que me senti muito bem, e senti também que uma coisa mudou em mim. Estava mais leve. Andava devagar, mas sem nenhuma dor, ou desconforto. Eu estava salvo. Mas quem me salvou? Quem me levou a esse lugar? Bastou que eu pensasse isso para ver ao pé de mim um viajante com alforje, chapéu e com sapatos muito fortes para caminhadas.
          Fiquei alegre quis andar até ele, mas ele se adiantou e disse: - Venha, vamos nos alojar, já chegamos.
          Fui, andamos um pouco e vimos casas, edifícios, escolas, parques, árvores... Entramos em um edifício onde tive que me identificar:
          -- Sou Paulo, morei em São Paulo e estou aqui, mas não sei onde estou.
Me disseram que eu já não morava mais em São Paulo, fui atingido por calhaus em uma avalanche que aconteceu na obra enquanto trabalhava. Meus amigos, colegas de trabalho estavam bem, minha família também, mas eu precisava me tratar e saber de minha atual situação.
          Eu não sou ignorante e perguntei: - Eu morri? Triste pergunta, pois me responderam que sim.
          Tive um choque, mas me contive. Pensei e respondi: - Então me ajudem, eu tenho que me acostumar. Quero saber tudo. O andarilho que me levou me disse que ia explicar direitinho, que eu podia estar sossegado, que tudo iria ser esclarecido.
          Hoje trabalho aqui mesmo. Vou de um lugar para outro fazendo o transporte de doentes em macas. Faço esse trabalho e estou bem. De vez em quando penso nos meus. Mas sei que tudo que Deus faz está certo e que certamente um dia eles estarão comigo também.
         Deixo aqui minha gratidão por tudo que fazem por mim, aqui onde estou os amigos e benfeitores; aí na Terra meus familiares, que sei que pensam em mim. Esqueci de dizer que era solteiro, mas que meus pais ainda moram em São Paulo.

         Paulo de Albuquerque. 

Psicografia recebida em 2017.                                     
            Médium: Catarina.