SOU
CARLINHOS MODIFICADO
Ei gente! Aqui tô lindo
e maravilhoso. Sou eu mesmo o Carlinhos que está falando. Vivo bem, aliás,
sempre vivi do jeito que eu quis, mas morri do jeito que não quis.
A mamona é braba, eu
sei disso, deixa a gente doidão, e eu fiquei doidão mesmo, quase nem senti
aquele tiro.
Veio de uma forma que
eu custei a acreditar que eu tinha sido marcado. Bem marcado eu já tava.
Minha cabeça do lado
direito doeu muito e até sangrou muito. Tudo ficou muito esquisito.
Cuida de mim! Eu
gritei! Mas ninguém me ouviu. Fiquei deitado sozinho e todo mundo fugiu.
Deram falta de mim, ou
sei que alguém me viu. Eu ainda estava vivo, mas eu não sentia porque via meu
corpo estirado. Me levaram para um lugar
esquisito, lá eu fiquei sozinho, desamparado.
Vi que alguma pessoa se
aproximava. Calcou minhas mãos e meus pés. Olhou meus olhos e falou: está
morto!
Mas eu estava vivo.
Como sofri, porque apesar de estar naquele estado horrível abriram minha cabeça
e retiram a bala, para examinar eu acho.
Levaram-me embora e eu
dormi, acho que anestesiado.
Fui parar em um lugar
muito bom, mas que eu não gostava. Muito quieto, eu gosto mesmo é de bagunça. A
erva me fazia falta, mas ninguém lá usava. Eu tremia, mas ninguém se importou.
Deram-me caldos e remédios, cuidaram da ferida e eu fiquei lá bastante tempo.
Depois fui levado a um
outro lugar, bem sossegado também (e eu não gostava disso), mas aceitei como não
havia de não aceitar se eu não mais decidia nada por mim, os outros é que
decidiam. Fiquei e estou lá até hoje.
Agora fui convidado a comparecer aqui, porque
querem saber de mim.
Ora, eu ainda estou em
recuperação, mais calmo, mas ainda continuo muito desassossegado, e sempre
querendo alguma coisa que não está a meu alcance. Volto para dentro de mim e
sinto um vazio danado... Onde estão todos os conhecidos, onde está quem sempre
cobrava de mim algo que eu não podia dar? Hoje se eles viessem eu acho que eu
poderia compreender ao menos um pouquinho e fazer o que eles queriam de mim.
Já não sou o mesmo.
Sou Carlinhos modificado.
Carlos Alberto
Pacheco
Eu ainda tremo por falta da droga,
alguém escreve esta carta por mim.
Carlinhos.
Psicografia
recebida em 2017.
Médium: Catarina.